Em um discurso contundente e com tom de denúncia, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) subiu à tribuna do Senado, nesta quarta-feira (17), para expor o que classificou como “um escândalo nacional”, envolvendo os planos de saúde no Brasil. Segundo a parlamentar, empresas bilionárias que deveriam garantir atendimento adequado a seus clientes estariam, de forma deliberada, transferindo custos para o Sistema Único de Saúde (SUS), gerando prejuízos diretos à população.
Soraya salientou que, entre 2000 e 2022, mais de sete milhões de atendimentos de beneficiários de planos privados foram realizados pelo SUS, somando R$ 11,75 bilhões em despesas. Desse valor, apenas R$ 5,24 bilhões foram ressarcidos, deixando mais da metade da conta para o contribuinte.
A senadora destacou com ênfase o caso da hemodiálise, que, segundo ela, revela o lado mais cruel dessa prática. Entre 2012 e 2019, quase 32 mil pacientes com plano de saúde precisaram recorrer ao SUS para realizar o tratamento, gerando um impacto de R$ 1,67 bilhão aos cofres públicos. Até 2024, já foram registradas 2,6 milhões de sessões de diálise custeadas pela rede pública, ao custo de R$ 2,04 bilhões. “Há pacientes que chegam a passar 70 dias internados apenas para ter acesso a um tratamento que deveria ser ambulatorial. Isso é desumano, é revoltante, é prova de que as operadoras descumprem contratos e jogam a conta no colo do povo brasileiro”, afirmou.
Segundo a parlamentar, negar cobertura ou restringir a rede credenciada virou um cálculo econômico para as operadoras, que transferem pacientes para o SUS, atrasam o ressarcimento e continuam acumulando lucros bilionários. Somente no primeiro trimestre de 2025, o setor de saúde suplementar registrou mais de R$ 6 bilhões em lucro — mais que o dobro do mesmo período do ano anterior.
Soraya cobrou a instalação urgente de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o setor, dimensionar o passivo das operadoras e expor as práticas abusivas. “Cada dia de omissão significa mais filas, mais sofrimento e mais dinheiro público financiando lucros privados. O cidadão paga o plano, mas é atendido pelo SUS. Privatizam os ganhos e socializam os custos. É hora de agir, em nome da saúde, da justiça e da democracia brasileira”, concluiu.