O desprendimento de um gigantesco iceberg na Antártida, em janeiro deste ano, revelou uma surpresa científica: um ecossistema submerso há séculos. O bloco de gelo, com cerca de 500 km², se soltou da plataforma George VI, expondo uma região até então oculta. Uma equipe internacional de cientistas, a bordo de uma embarcação do Instituto Oceânico Schmidt, aproveitou a oportunidade para estudar a biodiversidade local. Utilizando um veículo operado remotamente, os pesquisadores documentaram uma rica fauna, incluindo corais gigantes, esponjas, polvos e peixes-gelo.
A descoberta chamou a atenção pela complexidade e vitalidade do ecossistema, que parecia prosperar em condições extremamente inóspitas, sem luz solar ou nutrientes provenientes da superfície. A cientista Patrícia Esquete, da Universidade de Aveiro, destacou que muitos dos organismos encontrados parecem ter vivido ali por décadas, talvez até séculos. A origem dos nutrientes que sustentam essa vida continua sendo estudada, mas acredita-se que as correntes oceânicas, transportando nutrientes da água glacial derretida, sejam essenciais para a sobrevivência desses organismos.
Além de surpreender pela biodiversidade, a descoberta traz implicações para o estudo do impacto do aquecimento global na Antártida. O derretimento de grandes blocos de gelo pode alterar significativamente esses ecossistemas. Cientistas agora monitoram como essas áreas recém-expostas irão se adaptar às mudanças climáticas, com o objetivo de prever os efeitos sobre a vida marinha no futuro.



FOTOS: ROV SuBastian/Schmidt Ocean Institute