Na manhã desta terça-feira (29), o Memorial da Cultura Indígena Cacique Enir Terena, localizado na Aldeia Urbana Marçal de Souza, foi palco do Abril Indígena, iniciativa promovida pela Prefeitura de Campo Grande, por meio da Secretaria-Executiva de Cultura (Secult), que marcou o fechamento do mês dedicado à celebração da história, cultura e resistência dos povos originários.
Com foco na valorização das tradições, da identidade e das manifestações culturais dos povos indígenas da Capital, o evento reuniu membros da comunidade local, lideranças indígenas, representantes do poder público e da iniciativa privada.
A programação contou com a apresentação especial do Hino de Campo Grande em língua Terena, interpretado pelo professor Itamar Jorge, com acompanhamento da Orquestra Indígena da Comunidade Marçal de Souza — um marco simbólico da diversidade cultural presente na cidade.
“É muito importante que falemos às crianças sobre o resgate da nossa cultura, que não deixemos de ensinar o idioma Terena. Muitas vezes, pela quantidade de estímulos e influências externas proporcionadas pela vida moderna, pode acontecer de não quererem falar a própria língua, o que prejudica a continuidade da cultura. Trazer o Hino de Campo Grande para a nossa língua faz com que elas ouçam o idioma e se familiarizem com ela, fortalecendo a autoestima e ajuda a manter viva a nossa herança cultural”, destacou o professor.
A Orquestra Indígena da Comunidade Marçal de Souza iniciou suas atividades há cerca de dois anos e é composta por aproximadamente 40 crianças e adolescentes, que participam de aulas de instrumentos de cordas e de sopro, duas vezes por semana. O projeto conta com a orientação de professores e o apoio de uma equipe técnica especializada.

A autônoma Evelyn Jordão Malegro, de 32 anos, acompanhou de perto a primeira apresentação da filha, Emanuele, de 9 anos, que está aprendendo a tocar flauta doce. Ela relatou o entusiasmo da menina ao ingressar no projeto e enalteceu a iniciativa, que insere as crianças da comunidade em um universo novo.
“Ela chegou em casa falando da orquestra, contou que outras crianças estavam participando e pediu para entrar. Nós permitimos e, desde então, tem se dedicado e evoluído bastante. É muito bom ver as crianças tocando instrumentos musicais e ingressando nesse universo incrível da música, que contribui muito para a formação delas. É algo que levarão para a vida toda”, contou.
O cacique Josias Jordão Ramires ressaltou a importância do Abril Indígena, bem como dos investimentos em ações que perpetuem as tradições dos povos originários.
“Somos quase 19 mil só aqui em Campo Grande. Somos muito gratos por celebrar este mês com diversas ações que mostram a riqueza e a força dos povos indígenas da nossa cidade. Ficamos muito felizes em poder ver nossas crianças fazendo música e tendo suas vidas transformadas por meio da arte. Ouvir o hino do nosso município cantado em nosso idioma é, sem dúvida, um avanço na valorização da nossa cultura e na representatividade do nosso povo”, pontuou
Durante o evento foi assinado o termo de parceria entre a Prefeitura Municipal de Campo Grande, por meio da Secult, e a Fundação Ueze Zahran, formalizando o apoio institucional à Orquestra Indígena da Comunidade Marçal de Souza para fortalecer as ações contínuas de promoção da cultura indígena.
Ao comentar a iniciativa, o secretário-executivo de Cultura, Valdir Gomes, enfatizou a importância das parcerias entre o poder público e o setor privado para potencializar ações culturais e sociais que impactem positivamente comunidades como a Marçal de Souza.
“Parcerias como essa com a Fundação Ueze Zahran são fundamentais para que possamos alcançar ainda mais pessoas e transformar realidades em todas as regiões urbanas de Campo Grande”, pontuou.
“Ficamos muito felizes em fazer parte dessa história, que honra o legado deixado por Seu Ueze, patrono da entidade, que era um incentivador nato, que tinha satisfação em ver ideias se transformando em iniciativas concretas, especialmente quando envolviam educação e cultura”, ressaltou Vanderley Mazine, representante da Fundação Ueze Zahran.
A vice-prefeita Camilla Nascimento também ressaltou que o evento representa o reconhecimento do papel dos povos indígenas na construção da história e da identidade de Campo Grande.
“Esse é um mês muito especial para a nossa cidade. Representa muito mais que a cultura de um povo, representa o nosso sangue. A cultura indígena está no sangue de todos nós e precisa estar presente em todos os espaços da nossa sociedade, de maneira atuante, com a visibilidade e a importância que lhe é devida”, ressaltou.