“A tecnologia avança, mas a luta pelos direitos dos trabalhadores continua”
Jefferson Borges é o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações de Mato Grosso do Sul (SINTTEL-MS). À frente da entidade, ele tem sido uma voz ativa na defesa dos trabalhadores do setor, enfrentando desafios como a precarização do trabalho, a legalização das provedoras de internet e a luta por melhores condições salariais. Nesta entrevista à Revista Boca do Povo, Borges fala sobre os principais problemas enfrentados pelos profissionais da área e as mudanças no mercado de telecomunicações.
*Por B. de Paula Filho
BOCA DO POVO: Os trabalhadores em telecomunicações em Mato Grosso do Sul englobam todo o pessoal da telefonia?
JEFFERSON BORGES: Hoje representamos o SINTTEL (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações), que abrange todas as operadoras que atuam no estado de Mato Grosso do Sul, além das prestadoras de serviços em telecomunicações e provedores de internet.
BOCA: Por que o povo sofre com essas provedoras de internet?
JEFFERSON BORGES: Essa é uma situação que estamos trabalhando para organizar. Muitas empresas operam sem a devida regularização na Anatel. O Sindicato tem recebido denúncias e atuado como fiscalizador, mas para avançarmos nessa questão, é essencial que os trabalhadores estejam organizados e engajados.
BOCA: É verdade que a operadora Claro foi vendida?
JEFFERSON BORGES: Não, a Claro não foi vendida. O que aconteceu foi a aquisição da Oi Móvel pelas operadoras Claro, TIM e Vivo. A Oi passou por um processo de reestruturação, mas continua sendo uma das principais operadoras a atender Mato Grosso do Sul.
BOCA: Muitas empresas compram um link dedicado e o redistribuem em determinadas regiões. Isso é legalizado?
JEFFERSON BORGES: As operadoras vendem links para as provedoras, o que pode comprometer a qualidade do serviço. Como muitas operadoras deixaram de prestar serviços diretamente, o repasse dos links tornou-se uma prática comum. O problema é que esses links são compartilhados entre vários clientes, e nem sempre a qualidade prometida é entregue, principalmente devido aos equipamentos utilizados pelos consumidores.
BOCA: A internet via satélite de Elon Musk pode impactar os empregos no setor de telecomunicações?
JEFFERSON BORGES: Esse serviço veio para ficar e tende a reduzir o número de postos de trabalho. Como a instalação pode ser feita pelo próprio usuário, há menos necessidade de mão de obra técnica. No entanto, há um embate econômico, pois o governo não permitirá um serviço sem arrecadação. As operadoras são grandes arrecadadoras para o estado, e acreditamos que haverá políticas para equilibrar essa questão, garantindo empregos e arrecadação tributária.
BOCA: Qual a maior reclamação dos trabalhadores do setor?
JEFFERSON BORGES: A principal queixa é a desvalorização salarial. Nos últimos anos, os repasses das operadoras para os trabalhadores diminuíram. O SINTTEL tem atuado para reverter essa situação, mas o avanço tecnológico resultou na perda de postos de trabalho. A qualificação dos profissionais tornou-se essencial para sua permanência no mercado. Além disso, buscamos a equiparação salarial entre os trabalhadores e as operadoras principais.
BOCA: O setor perdeu muitos postos de trabalho?
JEFFERSON BORGES: Sim, muitos. Um exemplo é um call center que operava em Mato Grosso do Sul com 4.500 trabalhadores e hoje tem apenas 1.300. A fibra ótica, por exigir menos manutenção, substituiu muitas funções. Nossa estratégia tem sido incentivar a qualificação profissional para que os trabalhadores possam se adaptar às novas demandas do mercado.
BOCA: Como um trabalhador do setor pode se filiar ao sindicato? O que o sindicato oferece além da defesa dos empregos?
JEFFERSON BORGES: O SINTTEL representa todos os 79 municípios do estado e tem uma subsede em Dourados. O trabalhador pode se filiar por meio de nossas campanhas permanentes realizadas nas portas das empresas. Além da defesa dos empregos, oferecemos assessoria jurídica e assistência social, sempre buscando melhores condições para nossos filiados.
BOCA: Algo mais?
JEFFERSON BORGES: Agradeço pela oportunidade de abordar essas questões tão importantes. O SINTTEL segue à disposição para lutar pelos direitos e melhorias para os trabalhadores de telecomunicações em Mato Grosso do Sul.