Nos últimos três anos, Campo Grande presenciou um crescimento de 45% no número de favelas, segundo dados da Associação das Favelas de Campo Grande. Esse aumento ocorre durante a gestão da prefeita Adriane Lopes (PP), que assumiu a administração municipal em 2022.
Mesmo diante desses números alarmantes, a Prefeitura tem minimizado a situação, apontando a existência de “apenas” 39 favelas e um déficit habitacional de 30 mil imóveis, divergindo das estimativas da Associação, que calcula um déficit de 42 mil moradias.
Historicamente, a questão das favelas em Campo Grande tem sido tratada de forma negligente.
Analisando um recorte mais amplo, o crescimento das ocupações irregulares é ainda mais alarmante: de 2011 a 2024, o número de favelas saltou de 16 para 55, um aumento de 244%. Além disso, o número de famílias vivendo nessas comunidades subiu de 36 mil para 46 mil famílias no mesmo período, o que representa um aumento de 28%.
Em 2011, o então prefeito Nelsinho Trad reconheceu que o município tinha 16 favelas e prometeu que Campo Grande estaria livre delas em 2012, uma meta claramente não alcançada.
Dez anos depois, em 2021, o ex-prefeito Marquinhos Trad – já com Adriane Lopes na gestão – chegou a declarar que a cidade não possuía favelas, referindo-se a elas apenas como “áreas ocupadas aguardando regularização”.
Atualmente, as ocupações mais densas da capital incluem a antiga Homex, com cerca de 1.500 famílias, e a Comunidade Vitória, que abriga cerca de 140 famílias.
Letícia Polidório, coordenadora da Associação das Favelas, aponta que o aumento das ocupações reflete o empobrecimento da população local e a falta de oportunidades. “A maioria dessas pessoas é daqui, que perdeu o poder econômico e se viu sem outra alternativa”, destaca.
A coordenadora também explica que o aumento das ocupações é resultado direto da crise econômica e da perda de empregos. “O empobrecimento da população e a falta de oportunidades jogam as pessoas para as ruas”, comenta Polidório, destacando a precariedade dessas regiões, onde os moradores lidam diariamente com a falta de saneamento básico, riscos de acidentes e proliferação de doenças.
O descaso da Prefeitura com essas áreas teve consequências trágicas, como o incêndio que devastou a Favela do Mandela em novembro de 2023, destruindo mais de 150 barracos e forçando o poder público a iniciar um diálogo com os moradores apenas após a catástrofe.
Até então, na avaliação de Letícia Polidório, o poder público municipal não tinha interesse em ouvir as demandas dos moradores da Favela do Mandela antes do incêndio. “A relação era zero”, como define a especialista.
Mesmo assim, a prefeita Adriane Lopes decidiu fazer uso político da tragédia. Em seu programa divulgado no horário eleitoral gratuito na TV desta quinta-feira (19), a candidata à reeleição apresentou uma entrega de casas para uma ex-moradora da Favela do Mandela que teve o barraco destruído pelo fogo.
O deputado federal e candidato à Prefeitura de Campo Grande, Beto Pereira (PSDB), considera a situação inadmissível. “É desumano que 33% dos moradores de Campo Grande, uma cidade com quase um milhão de habitantes, ainda não tenham acesso à casa própria”, afirma.
O tucano também criticou a falta de esforços da atual gestão em buscar recursos para solucionar o caos habitacional. “O que vemos hoje é a ausência do município em um esforço real para combater o déficit habitacional. A cidade precisa de um plano que assegure moradia digna para essas famílias, o que significa promover não apenas casas, mas qualidade de vida e dignidade”, concluiu o candidato.
Beto promete enfrentar o problema com planejamento e ações concretas, ressaltando a necessidade de parcerias com os governos estadual e federal para ampliar o número de moradias populares.
“Durante meu mandato como prefeito em Terenos, construímos 500 casas populares. Em Campo Grande, essa iniciativa pode se traduzir em mais de 40 mil novas moradias”, propõe o candidato, defendendo que oferecer habitação digna é fundamental para restaurar a dignidade de milhares de famílias.
Beto também propõe enfrentar o déficit habitacional de Campo Grande por meio de parcerias com o Governo do Estado e o Governo Federal, utilizando também o orçamento municipal. Segundo ele, a cooperação entre as esferas governamentais permitirá que a habitação seja tratada como prioridade.
Ele se compromete a aderir ao programa “Lote Urbanizado” do Governo do Estado, que já beneficiou os 78 municípios de Mato Grosso do Sul, mas não foi implementado em Campo Grande. Recentemente, a cidade não foi contemplada por falta de cadastramento na gestão atual, um erro que ele assegura não ocorrerá em sua administração.