Corumbá, uma cidade que respira futebol e que, historicamente, registra média de público superior à de todo o Mato Grosso do Sul, volta a enfrentar turbulências em seu cenário esportivo. Mesmo com tradição, paixão nas arquibancadas e uma torcida que move o esporte local, novos impasses surgem na Liga de Esportes de Corumbá (LEC), reacendendo uma crise que há anos afeta o desenvolvimento do futebol na região.

A suspensão do convênio entre a LEC e a Prefeitura, anunciada pelo presidente da entidade, Ronaldo “Dallek” Vieira, trouxe à tona um desgaste institucional antigo. A decisão, tomada sem assembleia ou consulta aos clubes filiados, ocorreu em um momento crítico, às vésperas do início do Campeonato Estadual, gerando preocupação sobre o uso do Estádio Arthur Marinho — único palco apto para competições oficiais.
Internamente, o cenário também é de fragilidade. O mandato do presidente se encerra em 31 de dezembro e, segundo relatos de dirigentes do esporte local, ele se encontra cada vez mais isolado dentro da própria diretoria. Alguns integrantes já se afastaram, e o ambiente político da Liga é considerado instável. Essa instabilidade reflete a dificuldade da entidade em manter um diálogo amplo e articulado com clubes, instituições e o próprio poder público.
Um dos impasses envolve justamente a utilização do Estádio Arthur Marinho. A LEC manifestou discordância quanto à cessão do estádio ao Corumbaense Futebol Clube (CFC) durante o Estadual, defendendo a cobrança de aluguel. Porém, existe um convênio em vigor estabelecido entre a Prefeitura e o clube, e o município é o responsável administrativo pelo estádio — incluindo as obras e reparos atualmente em andamento para atender exigências técnicas e de segurança.
O histórico recente de manutenção também preocupa. Solicitações do Corpo de Bombeiros relacionadas à estrutura do estádio ficaram pendentes ao longo dos últimos anos, resultando em adequações necessárias em itens como extintores, mangueiras, sinalização e portas de emergência. Tais pontos foram assumidos pela Prefeitura, que tem executado intervenções para garantir as condições mínimas para a realização de jogos.
Paralelamente, há questionamentos sobre a capacidade de gestão da atual diretoria da LEC, que enfrenta desgaste tanto interno quanto externo. Especialistas e integrantes do meio esportivo apontam que a Liga não possui estrutura administrativa nem financeira para manter o estádio sozinha, o que torna o convênio com o poder público essencial para a continuidade das atividades esportivas da cidade.
O Corumbaense, clube de maior representatividade local, tem cumprido as exigências legais para participar do Estadual, realizando melhorias estruturais e buscando os laudos necessários para uso do estádio. Apesar disso, enfrentou dificuldades administrativas envolvendo a LEC, como o episódio de acesso ao Arthur Marinho que chegou a ser registrado como ocorrência policial.
A crise, longe de ser um evento isolado, dialoga com um histórico de dificuldades na organização do esporte amador — base fundamental para o fortalecimento do futebol profissional. A ausência de calendário regular de competições e o enfraquecimento da articulação entre clubes e Liga evidenciam a necessidade urgente de reestruturação.
Com o fim iminente do atual mandato e com discussões judiciais envolvendo a eleição da nova diretoria, o futuro da LEC dependerá de uma reorganização profunda. Transparência, diálogo e profissionalização são vistos como pilares indispensáveis para que a Liga volte a cumprir seu papel central no desenvolvimento esportivo da cidade.
Corumbá tem uma das torcidas mais apaixonadas do Estado e um enorme potencial esportivo. Garantir o futuro do futebol local exige uma Liga fortalecida, capaz de agir com responsabilidade institucional e alinhada com o interesse coletivo.
